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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Democratizar não, é massacrar!

por Karina Babá Tubota

A cobertura da tragédia da garota de 15 anos Eloá mostra mais uma vez que a mídia dominante, no caso das emissoras de TV, não só utilizaram de sensacionalismo, mas desrespeitaram mais uma vez o ser humano, o que fere completamente os valores da ética e bom-senso. O espetáculo começou ao veicular matérias que não poderiam acrescentar ou ajudar a solução do caso.

Algumas emissoras fizeram toda uma história e um perfil do Lindemberg, que depois foi constatada como inverdade, traçaram uma conduta de jovens e adolescentes como em um julgamento e, depois do episódio, utilizaram do poder de jornalistas e da mídia e acabaram atrapalhando as negociações, mostraram cenas de menores da prisão, colocaram a amiga da menina, a Nayara, em situações constrangedoras e a família também, como ainda farão muitas vezes. Isso só mostrou diversas situações em que as pessoas são colocadas como objetos de consumo, pois é isto que a mídia faz, vende aquela imagem e faz o leitor, telespectador comprá-la.

A Rede Record escancarou sua face de falta de ética e do jornalismo como espetacularização. A reprise, a exaustão, os especiais montados sobre o caso, o dissecamento de um fato que aconteceu ali em Santo André, no ABC Paulista, mas que ocorre em milhares de lugares no Brasil, levou milhares de pessoas ao show, à comoção e ao velório que foi transformado em espetáculo. E a família que está destroçada, merece essa desrespeito e essa dor exacerbada pela mídia? Não posso crer como profissional, ser humano, cidadã...

Esse cenário é constantemente visto nos veículos de comunicação brasileiros. Foi assim nos casos Isabela, Suzane VonHestofen, entre outros tantos. Aonde vamos parar é a pergunta latente? Pode ser repetitiva, mas é real, massacrante.

Quem queria ver outro programa ou notícia para fugir um pouco dessa espetacularização, teve que desligar a TV, o rádio e se desligar do mundo, sem opções, imerso em seu pensamento. Quem manda nesse país?

A maior evidência e, realmente, o ápice da espetacularização da notícia foi o fato da apresentadora Sônia Abrão ir falar com o Lindemberg como se fosse a negociadora do sequestro...jornalista? A completa falta de ética e o "tudo pelo dinheiro" e pela "melhor imagem" faz dessa sociedade uma captadora de jogos de poder. Adivinha quem sempre perde?

A menina Eloá, a amiga Nayara e o sequestrador Lindemberg simplesmente tornaram-se personagens de uma novela de 4 dias, como a das noite, das 9 horas, assistidas por milhões de pessoas num Brasil inteiro. Nunca Santo André foi tão falada na mídia, uma cidade com tantos assuntos interessantes para serem tratados. Mas, isso não vem ao caso, tudo se mistura, a novela real com a da ficção e, a mídia continua com seu poder velado de fazer as pessoas chorarem, se emocionarem, torcerem por seus personagens. Cadê o jornalismo? Isso é apenas um Show de Truman...




TV de "primeira", jornalismo de quinta

21/10/2008
Guilherme Guidorizzi
Observatório da Imprensa

A emissora que quer ser, a qualquer custo, a primeira colocada em audiência, mostrou neste final de semana que não tem o mínimo escrúpulo para isso. O seqüestro ocorrido em Santo André (SP) só serviu para confirmar que os índices no Ibope são mais importantes que a dor das famílias envolvidas. Era notório que o desfecho seria trágico, ainda mais após longas 100 horas de uma não-negociação com a polícia.

No alto de sua prepotência e arrogância, a Rede Record fez dos seus telespectadores (sádicos) igualmente reféns de Lindemberg. Seus programas passaram a retratar o seqüestro como se fosse uma novela, alongando a pauta por horas intermináveis, mesmo que nenhum fato de relevância estivesse ocorrendo. Os dados do Ibope mostraram para a Rede Record que ela estava no "caminho certo", no tal caminho da liderança que tanto se orgulhava de dizer que estava. Ao longo da semana, o matinal Hoje em Dia se transformou, de novo, em um programa sensacionalista e irresponsável. Pior que é só o Balanço Geral, uma versão famigerada do Aqui Agora (produção de 1991 do SBT), onde o apresentador, em linguagem popular, faz das tripas coração e só consegue chamar atenção na base da gritaria.

Ética não faz parte do dicionário

Após 100 horas, quando a polícia decidiu invadir o apartamento onde as jovens estavam, começaria a pior amostra de que tipo de jornalismo não se deve fazer. Totalmente apelativa, a Rede Record ficou por longas duas horas reprisando, à exaustão, as imagens da invasão do cativeiro, por parte dos policiais. Unicamente porque estava dando audiência. Tanta audiência que fez a emissora, na prévia, ultrapassar a Rede Globo na faixa das novelas das 18h e 19h, na base de um jornalismo cínico, irresponsável e carniceiro.

Tanto é verdade que no sábado (18/10), o Hoje em Dia, normalmente gravado, deu espaço a uma "edição especial" que ficou baseada na repetição daquelas imagens que já eram do conhecimento de todo o público. Tudo em busca do Ibope. A emissora já tinha mostrado essa veia vulgar na cobertura (extensa) do assassinato da menina Isabella Nardoni e agora encontra em Eloá e em sua tragédia uma saída para retomar a vice-liderança perdida no país em agosto para o mais forte concorrente. À tarde, um novo "plantão" foi ao ar. De novo, absolutamente nada. O que se viu foram as imagens de sempre, a gritaria de costume e o manual e a ética do jornalismo sendo rasgados em rede nacional, em nome da "informação". A ética, a propósito, parece não fazer parte do dicionário da Rede Record. Seus apresentadores chutam para o alto esta palavra e parecem ficar contentes com seus altos índices, mesmo que sejam conseguidos à base de tragédias.

Caos midiático

Lindemberg se transformou numa celebridade de quinta linha, tal qual o jornalismo da emissora dos "bispos". E não é de causar surpresa a atitude do canal 7 de São Paulo; afinal, ela é uma emissora que é sustentada por dízimos de seus fiéis. A Rede Record foi quem mais espetacularizou a notícia, fazendo da notícia um verdadeiro circo. Pergunta-se se o Ministério da Justiça ou o Ministério das Comunicações não irá fazer nada diante de tanto abuso de "poder" por parte dos apresentadores/jornalistas da emissora.

Até o Estatuto da Criança e do Adolescente foi ignorado, ao exibirem imagens das reféns menores de idade. A Rede Record conseguiu provar que por enquanto está longe de ser uma emissora de primeira (mesmo não sabendo o que viria a ser este primeira). Mas, já conseguiu ser eleita a emissora de jornalismo de quinta categoria. Onde tem tragédia, pode-se ter uma certeza: lá estará a Rede Record. Justiça seja feita. Não foi apenas a Rede Record a única irresponsável no caso de Santo André. A Rede Globo e a Rede TV!, esta através de Sonia Abrão, deram espaço para que Lindemberg, durante o cativeiro, conseguisse dar entrevistas irresponsáveis e em momento inapropriado. Na Bandeirantes, José Luiz Datena pedia que o seqüestrador piscasse as luzes do seu apartamento caso estivesse assistindo o programa. Um verdadeiro caos midiático.

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